Santo Antonio Maria Claret
Do Zelo que devemos ter
pela maior glória de Deus e do bem do próximo
O
amor de Deus e do próximo produz um efeito muito semelhante ao do fogo. O fogo
da pólvora faz saltar pelos ares qualquer que o comprima, impele para cima as
balas e as bombas; o fogo do vapor faz correr a toda velocidade os vagões dos
trens e empurram os navios que cortam as ondas do mar; assim o fogo do Espírito
Santo fez que os Apóstolos corressem o mundo inteiro. Este mesmo fogo divino
inflamou e empurrou São Pedro Nolasco e seus companheiros e aos filhos da ordem
por ele fundada a livrar da escravidão os corpos e as almas de tantos cristãos.
Inflamados
pelo mesmo fogo os missionários apostólicos, chegaram, chegam e chegarão até os
confins do mundo, de um polo ao outro, para anunciar a palavra divina; de modo
que possam dizer como São Paulo: “Caritas
Christi urget nos” a caridade de Cristo nos estimula e nos insta a correr e
a voar com as asas do santo zelo.
O
verdadeiro amante ama a Deus e seu próximo; o verdadeiro zeloso é o mesmo
amante, porém em grau superior. Segundo os graus de amor, quanto maior amor tem
maior o zelo. E se alguém não tem zelo é sinal certo que tem apagado em seu
coração o fogo do amor, a caridade. Aquele que tem zelo deseja e procura por
todos os meios possíveis que Deus seja sempre mais conhecido, amado e servido
nesta vida e na outra, posto que esse sagrado amor não tem limites.
Do
mesmo modo age em relação com seu próximo, desejando e procurando que todos
estejam contentes neste mundo e sejam felizes e bem aventurados no outro; que todos
se salvem, que ninguém se perca eternamente, que nenhuma pessoa ofenda a Deus e
que ninguém finalmente, permaneça um só momento em pecado. Assim vemos nos
santos apóstolos e em qualquer um que é dotado de espírito apostólico. E não só
nos homens mas também nas mulheres como se lê na vida de Santa Maria do
Socorro, de Santa Mariana de Jesus, de Santa Natália e de outras que seria
demasiado enunciar, as quais com suas orações, mortificações e exortações
procuraram sempre a maior glória de Deus e o bem corporal, espiritual e eterno
do próximo.
Em
confirmação desta verdade, seja me permitido aqui narrar alguns fatos de suas
interessantes vidas:
De
Santa Rosa de Lima se lê que dizia: “Se
eu fosse varão andaria de um reino a outro até que se convertessem todos os
pecadores.” E já que isso não podia por em execução, chorava, orava e fazia
áspera penitencia para este fim; e com as expressões mais enérgicas se
esforçava por persuadir aos pregadores, aos confessores e às pessoas zelosas e
virtuosas se aplicassem a uma obra tão importante. Respondendo a alguns deles
que se dedicassem a ela depois de concluídos os estudos superiores, ela
insistia dizendo: “Por Deus, padres! Para
converter os índios não é necessária tanta teologia; o que falta é zelo, amor a
Jesus Cristo e às almas que ele conquistou com Seu Sangue Preciossíssimo. Ide,
ide padres, que a necessidade é urgente.” Ribadeneira, Flos Sanctorum (Madrid,
1761) II, p.650.
Era
tão grande e ardente o zelo que estava continuamente animada Santa Catarina de
Sena, que na Itália, andava de um povo a outro exortando e pregando por
disposição do Sumo Pontífice e o fruto que produzia era tão copioso que devia
levar consigo doze confessores com faculdades extraordinárias para ouvir as
confissões dos que se convertiam ao escutar suas palavras. L. Gisbert, Vida Portentosa de Santa Catalina (Valência 1690). P.174.
Tinha,
ademais, tanta veneração aos pregadores e aos confessores que com zelo se
dedicavam a salvação das almas que beijava a terra onde tinham posto os pés. O
grande e fervoroso zelo em que ardia a fazia exclamar: “Senhor e Deus meu, queria colocar-me às portas do inferno para impedir
que entrassem nele as almas dos pecadores.” Beato Raimundo de Cápua, La vita di
S. Caterina da Siena (Roma, 1866), p. 10.
Na
vida de Santa Tereza de Jesus se lê o que fez ao ouvir o dano e a ruína que
causava a heresia de Lutero e Calvino: “Fique
tão lastimada da perdição de tantas almas que não me cabia em mim. Fui-me a uma
ermida com fartas lágrimas; clamava a Nosso Senhor sumplicando-Lhe que me desse
algum meio de ganhar alguma alma para seu serviço, de tantas que levava o Demônio,
e que minha oração pudesse algo, já que eu não conseguia mais que isso.”
(Fundações, Cap. I, p.7).
Continua...
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